Este blog tem o objetivo de mostrar que defensores de animais são contrários ao racismo e quaisquer formas de preconceito e discriminação.

sábado, 27 de outubro de 2007

Respeito a Todos os Seres !

No dia 21/10/2007 o grupo anti-racista Afropress entrou com um pedido de investigação de crime de racismo contra a ONG Holocausto Animal. Isto deve ter acontecido por não terem compreendido o teor do site e a proposta libertária da ONG Holocausto que na realidade vai ai encontro da mesma proposta do grupo anti-racista. A Afropress sentiu-se ofendida devido o grupo mostrar uma imagem da escrava Anastácia. A Afropress apresenta alguns depoimentos, mas não apresenta várias cartas que tem recebido de representantes e simpatizantes do movimento abolicionista animal e por isto este blog.

Para nós que somos contra a exploração animal há sim uma analogia entre o mecanismo cultural que permitiu a escravidão dos negros e mesmo a exploração e genocídio de outras minorias e por isto o grupo apresenta as imagens questionadas. Se utilizam a palavra holocausto é para mostrar que há uma semelhança na força social que permite que se escravize, torture seres humanos assim como a força social invisível que atua sobre as sociedades ocidentais que permite que se naturalize o sacrifício e tortura animal. Como socióloga imagino que seja esta mesma força que impede que muitas pessoas vejam nas violências que cometemos contra os animais algo cruel e que deve ser evitado. Aliás, hoje é crime grave os maus tratos para com os animais e passível de prisão conforme a legislação brasileira. A sociedade vive ainda uma transição entre o hábito de fazer sofrer aos animais para usufruto humano (muitas vezes por razões fúteis) e leis que já entendem o sofrimento animal feito pelo homem como crime e ainda sem condições de administrar isto juridicamente e mesmo sócio-psicologicamente. Por isto existem movimentos como o Holocausto animal que quer possibilitar o despertar da sociedade para a realidade da violência para com os animais como já despertou para o absurdo do racismo e toda discriminação. Muitas pessoas ativistas pela defesa dos animais são também ativistas pelos direitos humanos. Partimos do princípio que somos todos animais, mas devido à nossa complexidade cultural, tecnológica e de inteligência caberia a nós proteger e respeitar a TODOS OS SERES E A NATUREZA! Partimos do princípio de que a natureza e os animais não existem para nos servir e que devemos respeitá-los por valor intrínseco.

Por isto este blog, para apresentarmos à sociedade o que pensamos, para que não sejamos mais confundidos com racistas o que muito nos ofende e avilta. Eu pessoalmente sou ativista também pelos direitos humanos, participante da Anistia Internacional no Brasil enquanto esta estava ativa aqui no Brasil justamente por sua luta contra a discriminação, por defender aquelas pessoas que eram discriminadas por razões de raça, credo, sexo, orientação sexual, gênero ou quaisquer questões de consciência e muito nos ofende sermos considerados racistas ou preconceituosos em relação a qualquer grupo. Fui também ativista pelas cotas para negros na universidade por entender que a sociedade ainda tem mecanismos discriminatórios importantes que impedem que os negros (e outras minorias excluídas) tenham acesso aos mesmos postos de trabalho e de estudo como lhe garante a lei devido à mentalidade racista e discriminatória que ainda vigora no Brasil. (Não vou me estender aqui, porque a idéia é expor a proposta daqueles que querem acabar com a exploração e sofrimentos dos animais e mostrar como isto não é racista e contrário a outras propostas libertárias de minorias).Na realidade eu apoio o movimento negro e todos os movimentos anti-preconceito. Também me oponho ao preconceito, mesmo se viesse de vegetarianos e veganos e se escrevo isto é porque sei que há um equívoco ao interpretar a proposta do Holocausto Animal como racismo.

Somos é contra qualquer preconceito, a exploração, arbitrariedade e discriminação, mas estendemos nosso conceito de respeito também aos animais a quem queremos libertar e a quem não queríamos mais ver explorados pelo ser humano. Queremos que sejam tratados com respeito e que pudessem usufruir a vida para viver em liberdade também. Também cabe ressaltar que não comparamos negros, judeus ou qualquer grupo com animais e tampouco comparamos sofrimentos, mas não queremos nenhuma crueldade, mesmo com os animais. Nossa comparação se dá quanto aos mecanismos que permitem que se cometa a violência contra aqueles que não podem se defender como aconteceu e infelizmente ainda acontece com todos que não têm voz para se defender. Nossa proposta é de respeito às diferenças e contrária à violência concreta ou simbólica causada devido qualquer tipo de discriminação de raça, credo, gênero, orientação sexual, casta ou grupo social ou qualquer questão de consciência. Opomo-nos sim aos racistas, aos nazistas e neonazistas, aos revisionistas históricos que negam a violência para com os judeus, nos opomos aos grupos que agridem de qualquer forma os homossexuais e quaisquer minorias.

Hoje somos uma minoria também, mas ainda não somos vistos como tal em termos constitucionais, e também pedimos respeito e solidariedade da sociedade e gostaríamos de estender a nossa solidariedade a todas as minorias (humanas e não humanas). Sim, somos uma minoria, já que nosso desejo de não participar da violência para com os animais não é respeitado, já que não há ainda uma mentalidade que nos permita evitar alimentos, roupas e mesmo medicamentos que vão ao encontro de algo que é tão importante para nós que é o respeito para com toda a vida. (Aliás, estes são os termos da lei do meio ambiente que determina que se proteja toda a vida!). Muitos de nós são vegetarianos e veganos pelas questões de cunho ético aqui apontadas para com os animais, mas muitas vezes somos alvos de piadas e desrespeito, mas ainda não temos espaço de defesa e agora fomos até confundidos com racistas.

Como socióloga posso entender que a sociedade demore algum tempo para assimilar um novo paradigma que é o paradigma anti-especista que é a proposta de todos que querem garantir às outras espécies de animais respeito nas diferentes formas e espécies que existem. Não achamos que ser animal é algo ofensivo ou de menos valor, animais tem um valor próprio e não são meros objetos dos seres humanos. Queremos pedir a eles respeito e solidariedade e se possível que seja cumprida a lei que considera crime os maus tratos para com os animais e que todos possam ver a forma cruel a que são submetidos os animais . A palavra especismo é o sinal deste novo paradigma como foi um dia a criação da palavra racismo, sexismo, feminismo e ambientalismo. São palavras que mostraram, à medida que foram criadas, outras mentalidades que se abriam contra a arbitrariedade e preconceito. Agora queremos apresentar ao mundo o quanto a mentalidade especista contém de violência, crueldade e injustiça e queremos outra sociedade sem esta violência e injustiça para com todos os seres! Queremos uma moral que agregue aos valores acumulados pela sociedade como liberdade, igualdade, justiça, direito às diferenças e outros também a compreensão de uma natureza, com a fauna e a flora livres da exploração e dominação humana.
É preciso lembrar ainda que há no grupo Holocausto e simpatizantes vários representantes destas minorias. Há entre nós, negros, judeus, mulheres, homossexuais, “estrangeiros-brasileiros” e representantes de várias minorias discriminadas. Somos favoráveis às causas destas destas minorias, dos negros, dos judeus, mas defendemos também os animais da barbárie a que têm sido submetidos.

Lamentamos que algumas pessoas do grupo Afropress tenham entendido mal nossa proposta e não tenham percebido que nunca tivemos intenção de ofender, ao contrário somos solidários na luta contra o preconceito. Na realidade deveríamos estar somando forças contra toda e qualquer discriminação e não gerar mais divisão de forças contra as estruturas dominantes da sociedade que impõem ainda estas arbitrariedades e injustiças. Não estamos contra negros ou quaisquer minorias, estamos ao lado das minorias e daqueles que não têm voz como é o caso dos animais a quem queremos estender nossa solidariedade. Na causa vegan e vegetariana também não somos homogêneos, como ocorre com outros movimentos e há algumas diferenças de enfoques, mas somos contrários ao preconceito, mesmo se for manifestado por um vegetariano ou vegano e apoiamos o movimento negro. Gostaríamos que o grupo Afropress soubesse que na realidade somos solidários à causa anti-racial que abraçam. Opomo-nos ao preconceito e à violência racial e qualquer forma de discriminação; apenas estendemos nossa solidariedade aos animais que são cruelmente explorados pelos seres humanos.
Este blog é para tratar disto. Comentários serão moderados e não podem conter palavras ofensivas e nenhuma forma de desrespeito para com qualquer grupo (de animais ou humanos). É para que possam entender nossa proposta libertária, nosso desejo de acabar com o preconceito, a discriminação e a violência para com todos os seres. Queremos paz, justiça e respeito para com todos os seres e mesmo para com a natureza, não somente para as futuras gerações de seres humanos, mas pelo seu valor intrínseco.

Eliane Carmanim Lima, 27/10/2007.

Sou psicóloga, socióloga, pesquisadora da UFRGS, também ativista em direitos humanos, ex-membro da Anistia Internacional quando ativo no Brasil e participei da campanha pelas cotas na UFRGS.

2 comentários:

Anônimo disse...

Também achei a colocação da Afropress sem fundamento. Solicitei a postagem do seguinte comentário naquele site:
"A representação que a referida ONG deseja apresentar apresenta a falta de uma fundamento básico: racismo não é a mesma coisa que especismo. O grupo pelo fim do holocausto animal tem como princípio o respeito pela vida, e creio que a ONG ABC ao apresentar esta representação esta contrariando este princípio básico, o que pode merecer uma contra representação... Ademais, esta reação não deixa de ser uma forma de preconceito..."

ELIANE CARMANIM LIMA disse...

Martha Follain, me pediu para postar isto aqui:
mfollain

Fábio,
Você tem todo o meu apoio. Você é, e sempre foi uma pessoa, que prima pela gentileza e educação.E, quem é anti-especista, também é contra o racismo, o sexismo, etc.
Os dirigentes dessa ONG que estão lhe acusando, muito provavelmente, estão equivocados quanto ao significado dos termos - especismo, holocausto, etc, o que foi brilhantemente explicado pela amiga Drª Denise Grecco Valente.
Espero que a situação seja resolvida brevemente e, deixo aqui minha tristeza com o fato.
Fábio, muita força para você!
Abs,
Martha Follain.